sábado, 23 de outubro de 2010

O MELHOR LUGAR... (Parte 2)

O JOÃOZINHO É BURRO OU EU QUE SOU UM PECADOR?

Como disse anteriormente, não me lembro do final da história do Joãozinho. Não me lembro do final, justamente porque passei o resto da aula perdido em meus pensamentos sobre o que acabara de ouvir:

O Joãozinho era burro?! Como alguém rejeita uma proposta de passeio daquelas? E se fosse para abrir mão de ir ao zoológico em favor de outro passeio tão legal quanto (como ir ao parque, ir à praia ou à fazenda), a gente até pode entender, mas rejeitar esse passeio porque ele quer ir à igreja no domingo... faça-me o favor! Há tantos domingos para ir à igreja, no entanto, não é todo domingo que dá uma louca no seu pai de querer te levar no zoológico. Se fosse comigo eu iria aproveitar, iria para o zoológico sem pestanejar!

A medida que a professora exaltava a decisão de Joãozinho eu me sentia cada vez mais culpado pelos meus sentimentos pecaminosos, por isso, tentei me confortar no seguinte pensamento:

Provavelmente, o pai do Joãozinho não era crente (afinal, que tipo de pai crente quer levar o filho no zoológico justamente no domingo) Por isso, era mais do que obrigação do Joãozinho rejeitar o convite e mostrar ao pai que ele estava comprometido com Jesus, quem sabe assim ele conseguisse com que seu pai se convertesse. Já eu estava isento dessa obrigação! Meus pais eram crentes e todo domingo de manhã tinham o costume de me acordar assobiando um hino que diz “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do SENHOR” (o que me fez detestar esse hino) Por isso, se por um milagre, eles me acordassem domingo de manhã para ir ao zoológico, eu tinha todo o direito de aceitar.

Mas a minha lógica, bem como o meu momentâneo conforto, começaram a ruir quando a professora apresentou o versículo de aplicação da história. Como era mesmo...(?) ah, sim, eu o conhecia muito bem:

Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do SENHOR”

(Sl 122.1)

Seria isso um sinal?


CONTINUA...

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O MELHOR LUGAR...


A TERRÍVEL HISTÓRIA DE JOÃOZINHO

Ainda hoje, lembro de muitas histórias que minhas queridas ‘tias’ de EBD contavam quando eu era criança. Muitas delas me fizeram rir, me inspiraram, me emocionaram... mas há uma história que me marcou terrivelmente. E digo ‘terrivelmente’, porque os sentimentos que essa história gerou em mim não foram nada agradáveis.

Era um conto bem simples, daqueles que muitos professores recorrem em cima da hora quando não preparam a lição com antecedência. Contudo, não parecia ser esse o caso daquela professora; ela dramatizava muito bem as falas dos personagens e demonstrava muita familiaridade com o enredo, pois mudava as figuras com muita destreza e na hora certa.

Depois dessa minuciosa descrição da didática de minha professora de EBD você deva estar pensando que eu era uma daquelas crianças chatas, metódicas e perfeccionistas que, vez ou outra, Deus coloca na vida de um professor para prová-lo; mas a verdade é que eu era uma criança normal. E se você é daqueles que acham que para criança qualquer coisa serve, pois elas não percebem nada... Surpresa! Nós percebemos a falta de preparo!

Bom, mas vamos ao que interessa! A historinha era mais ou menos assim:

“Joãozinho, acorda, rápido! Tenho uma surpresa para você!” – disse o pai do menino

“Surpresa, pai?! Oba eu amo surpresas!” – disse Joãozinho, pulando da cama cheio de expectativa.

“Pois é, meu filho! Hoje nós vamos ao zoológico!”

Poxa! Ao zoológico! Eu adoro animais! Ir ao zoológico seria um passeio incrível! Como eu gostaria de estar no lugar do Joãozinho. E a professora instigou ainda mais esse sentimento, fazendo perguntas do tipo: “Quem gostaria de ir ao zoológico hoje?”

Eu esticava minha mão o mais alto que podia, talvez para mostrar o quanto eu me identificava com a história, ou talvez porque, na minha imaginação, a professora tinha uma entrada para o zoológico escondida que daria ao aluno que esticasse a mão mais alto.

“Como vocês acham que o Joãozinho se sentiu?”, continuou a professora. Ela só podia estar brincando! Aquilo era uma pergunta retórica, ou o quê? Éramos crianças, não abobalhados! Era óbvio que Joãozinho estava dando pulos de alegria, afinal, o zoológico era o MELHOR LUGAR para uma criança estar! Por isso, eu e meus companheiros gritamos em coro: “Ele [Joãozinho] ficou muito feliz!”.

Para certificar-se de nossa resposta, a professora imitou o Joãozinho feliz, e perguntou em seguida: “Foi assim que ele ficou?” A situação inusitada nos fez rir (até nos esquecemos do porquê, estranhamente, ela insistia naquela pergunta boba) e, totalmente inocentes, respondemos com mais convicção em meio a risadinhas: “Sim, foi assim que Joãozinho ficou”!

A sentença em seguida, deixou todos atônitos: “Mas Joãozinho não ficou feliz!”, disse a professora em tom de velório.

Houve um breve silêncio na sala e, enquanto todos se perguntavam se Joãozinho estava doente ou alguma coisa parecida, ela continuou, dramatizando a resposta que Joãozinho deu para seu pai.

“Para o zoológico, pai?! Mas hoje é domingo!” – respondeu Joãozinho meio triste, meio confuso.

“Pois é, filho! Hoje é domingo, você não tem aula! Vamos ao zoológico, vai ser um dia incrível!” – disse o pai ainda eufórico.

“Mas pai, hoje é domingo... dia de ir na igreja. Eu não quero ir ao zoológico, eu quero ir à igreja” – disse Joãozinho muito firme e sério.

Lamento frustrar suas expectativas, mas eu não lembro muito bem como termina a história de Joãozinho. No entanto, as intenções da professora eram muito claras; ela poderia ter parado ali, que o efeito daquela história sobre a minha vida teria sido o mesmo.

CONTINUA....